Entrevista da Semana

Tânia Fornel e seu dom para a arte

Cidade
Guaíra, 1 de abril de 2018 - 09h50

Tânia Raquel Felício Fornel, professora aposentada e artista plástica – autodidata – é mãe de Matheus, que reside no Japão, e Aline, jornalista no Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça.  Casada com Devanir Fornel, nasceu na capital da República, em Brasília. Tinha o sonho de se formar em Jornalismo ou Arquitetura, mas a roda viva da vida a fez professora em um dos colégios mais conceituados de Uberaba (MG) – Colégio José Ferreira.

 

Se você nasceu em Brasília, como chegou em Guaíra?

Meu pai era mineiro de Conceição da Alagoas (MG), minha mãe de Goiás (GO). Ele foi trabalhar na construção de Brasília e lá eu nasci, num dia muito especial: dia de Nossa Senhora das Graças, 27 de Novembro. Depois de dois anos, voltamos para Minas. Mais tarde, eu já trabalhava com confecção de colchas, de matelassê, e passava por Guaíra, dormia na casa de meu tio – Augusto Barata – e no outro dia seguia para fazer compras em Rio Preto. Eu era recém-formada e vi um informe, na rodoviária, de que haveria concurso público para professora do município. Prestei o concurso e passei.

 

E o Devanir?

Quando passei neste concurso para professora, fui morar em uma casa que era bem em frente à casa do Devanir Fornel. Ele se tornou meu melhor amigo! Da amizade surgiu o namoro e depois de oito meses de namoro, estávamos casados! Isso já dura trinta anos aqui em Guaíra.

 

Ama Guaíra?

Guaíra é a minha cidade! A maior parte dos meus anos foram passados aqui. Criamos nossa família neste lugar, então, é como se fosse minha cidade natal!

 

O magistério te deu muita realização?

Muita! Como fiz o magistério no colégio Dr. José Ferreira, de Uberaba (MG), tive uma base muito boa, muita sólida. O diferencial do bom profissional é a escola onde ele estuda, os profissionais que ele convive, então, com esta bagagem, eu dei aulas na Educação Infantil por vinte e seis anos. Cada dia mais apaixonada pelo trabalho, pelas crianças, pelos meus alunos.

 

Foi dentro da sala de aula que veio o “estalo” para os trabalhos artesanais?

Na verdade, não! Este dom já nasceu comigo. Eu acredito que seja hereditário, porque meus avós eram negros, italianos, portugueses e índios, todos ligados para o trabalho artesanal.

 

Como foram as suas primeiras produções?

Meu pai, em determinada época, montou um fábrica de brinquedos de madeira e eu ficava por ali, ajudando e eu o via fazer as ferramentas, criar os brinquedos e eu pegava os pedaços de madeira e fazia banquinhos, ele transformava as caixinhas de uva em guarda-roupinhas para nossas brincadeiras. Minha mãe fazia roupinhas para as bonecas de meias.

 

Então os brinquedos eram todos confeccionados?

Nossos brinquedos nunca foram comprados, eram todos feitos na oficina. Minha família era composta de 13 irmãos. Nós todos trabalhávamos, limpávamos o quintal, a casa, no final da tarde sobrava um tempo livre, meu pai saía da oficina e íamos brincar. À noite, era para contar e ouvir histórias. Minha mãe fazia as bonequinhas de pano, então, éramos muito ricos porque hoje quem é rico é só rico de dinheiro. E nunca nos faltou a cultura, o lazer… Nossa casa tinha um terreno enorme, parecia uma chácara, tinha um pomar, cada filho tinha seu pé de árvore, tinha os brinquedos que a gente mesmo confeccionava, meus irmãos tinham, naquele espaço, a fazenda deles, faziam estradas, faziam os caminhõezinhos de lata, um ia visitar a fazenda do outro, vinham tomar café na casinha das meninas. Era uma riqueza sem fim! Uma riqueza que as crianças de hoje desconhecem. Tudo isso serviu de base de estrutura.

 

Levou esta bagagem para a sala de aula?

Quando fui para a Educação Infantil levei para os alunos essas experiências. Dividi com eles tudo o que eu vivi. Era apaixonante. Eu levava, todas as sextas-feiras, verduras, legumes, jiló, quiabos e ensinava a fazer elefantinhos, boizinhos, montar uma fazendinha… A gente trabalhava a semana todinha os conteúdos pedagógicos e na sexta-feira eles aprendiam pelo lúdico. Cheguei a montar um circo com eles.

 

Quando você se aposentou se perguntou: “e agora?”

Nunca fiz esta pergunta! Minha vida sempre foi muito planejada. Eu pensava que no dia que me aposentasse, minha missão estaria cumprida! Eu sabia que iria me dedicar mais aos meus hobbies.

 

E quais são estes hobbies?

A pintura em tela, a desidratação das flores, tudo isso requer muito tempo e muita dedicação. Eu pego uma quantidade de serviço que sei que vou dar conta e não deixo que nada atrapalhe meu “cochilinho” da beleza, toda tarde (risos)! Nada pode atrapalhar a atenção aos meus filhos e ao meu marido.

 

O que requer mais a sua atenção ultimamente?

Os buquês das noivas! Cada buquê tem uma história. As noivas relatam o seguinte: o buquê entra com elas na Igreja, elas entram solteira e é o buquê que segura as energias delas. Quando elas saem da Igreja, saem com um marido. Casadas! E o buquê ali acompanhando. Ele também acompanha a festa. No dia seguinte, a festa acabou, tudo acabou e está ali, o buquê. Então, eternizo este momento, porque desidrato rosa por rosa, remonto, coloco no quadro com moldura e ele vai enfeitar a casa da noiva, como uma obra de arte.

 

Tem algum trabalho que você tem um carinho especial?

Cada um é cada um! Por exemplo, depois que me preocupei com o buquê da noiva, passei a olhar com mais carinho também para aquela flor única que alguém ganhou de uma pessoa querida, uma pessoa especial. Então, passei a desidratar e conservar também estas flores simbólicas. Assim, estou sempre criando, sempre inovando.

 

Você se sente realizada?

Eu me realizo em cada dia. Se eu viver até os 100, 110 anos, ainda assim vou encontrar alguma coisa para fazer!

 

Você passou sua arte para seus filhos?

Passei para os filhos e para o marido, para as amigas…

 

Se alguém quiser ter aulas com você, é possível?

Já tive esta experiência! Assim que me aposentei fui procurada e a pessoa queria pintar uma tela. Mas, ela queria que eu riscasse, que eu a ajudasse na escolha das cores, que eu pintasse. Então eu disse: não, você tem que aprender como eu aprendi, fazendo! Elas querem aprender, mas não querem fazer! Meus filhos, meus alunos, aprenderam a fazer, fazendo!

 

E a sua participação na revista Agro S/A?

Meu foco, na revista Agro, é para aquela pessoa que mora lá no sítio, que não tem acesso a telas, mas eu faço com que ela veja a riqueza imensa que tem ali, no seu quintal. Ela tem um pedaço de tábua velha, uma peneira, uma folha seca, um galho. Basta olhar com atenção.

 

Colheita

Hoje, estou colhendo o que plantei. Passei da fase do plantio e estou na fase da colheita. Meus filhos estão encaminhados, ensinei-os a ter um trabalho e um hobbie, então Aline é jornalista e tem o hobbie de viajar, ela quer escrever a sua própria história e Matheus, além de trabalhar no Japão, também joga basquete. É uma colheita muito bonita, porque meus aluninhos, ainda hoje, têm muito carinho por mim e guardam os ensinamentos do passado.

 

Frase

Tem uma frase que eu gosto muito: “Rico é aquele que sabe administrar o pouco que se tem. O pouco com Deus é muito!” Hoje eu ganho o suficiente para manter o meu hobbie. Riqueza material acaba! Tudo o que a gente tem não é nosso. Tudo é de Deus. Sempre colocando o próximo dia nas mãos de Deus.


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