Entrevista da Semana

Maria Adriana: mulher de fé e determinação

Cidade
Guaíra, 9 de setembro de 2018 - 07h30

 

 

 

 

 

 

Maria Adriana de Oliveira Barbosa Gomes, Assistente Social e Vereadora, é casada com Dinael dos Reis Gomes e mãe de Guilherme, 26 anos e Felipe de 22 anos. Tem quatro irmãos: Andréia, Osmar, Alessandra e o Benedito, conhecido como Dito. Simpática, Maria Adriana tem facilidade de se expressar por conta dos inúmeros livros que já leu – quando tinha tempo – inteligente e elegante, com uma fé inabalável em Deus, se sente uma pessoa privilegiada e agradecida por tudo que a vida lhe proporcionou até hoje.

Nasceu em Guaíra?

Sim, sou de Guaíra, estudei aqui até a sétima série e parei, me casei e depois que tive meu primeiro filho, fiz a oitava série na Escola Dalva Lelis, depois do segundo, fiz o terceiro colegial no supletivo em Bebedouro, na escola Ernani Nobre e em seguida fiz a graduação em Assistência Social.

Por que escolheu a Assistência social?

Escolhi essa profissão, porque sempre gostei de lutar pelos direitos das pessoas e o trabalho da Assistente Social me dava esta possibilidade. Queria   garantir  o direito da população e das pessoas mais vulneráveis. Isso porque na minha história de vida também tivemos muita dificuldade. Vim de uma família muito humilde, muito simples, meus pais eram trabalhadores rurais, minha mãe sempre trabalhou demais, cheguei a ir para este trabalho, porém foi por  pouco tempo, meus irmãos também foram trabalhadores rurais, mas  me interessei pela área de  fazer o bem e de estudar.

Você é funcionária pública municipal?

Isso mesmo, passei no concurso público na área de  Serviços Gerais, entrei e já me encaminharam para a assistência em 2006. Com isso me interessei mais em estudar, porque pensei: “Eu não vou ficar somente nos serviços gerais”, não que isso seja desmerecedor, pelo contrário,  mas devemos sempre procurar melhorar.

E aí?

Prestei o vestibular na UNIFEB de Barretos e passei, então o primeiro ano conclui lá. Nesta época meu marido trabalhava na  Usina não ganhava muito.  Olha, é uma história muito difícil, pois nesse meio de tempo meu esposo ficou desempregado, porém sempre tive muita fé disse:  “Vamos,  que vai dar tudo certo!”  Eu trabalhava com a Mileide,  a quem sou muito grata, ela fazia UNESP em Franca e me informou  que aconteceria  uma prova para preencher  as vagas remanescentes,  ela me explicou direitinho, entrei em contato com a faculdade, consegui pagar a inscrição no último momento e estudei dia e noite, graças a Deus passei e acabei lá minha faculdade na UNESP.

Trabalhava durante o dia e estudava à noite?

Foi assim mesmo! Logo depois o Dinael conseguiu um emprego, mas foi com muita luta que consegui concluir os estudos. Pegava o ônibus cinco horas da tarde e ia até sem comer pois e às vezes nem tinha dinheiro, então chegava em casa com fome. A vida  do estudante é isso, temos que valorizar os alunos que estão nessa vida, principalmente aqueles que viajam todos os dias, porque se sofre para pagar o ônibus, pagar  a faculdade,  quem paga muitas  vezes não tem o dinheiro para comprar o lanche, passei por isso, sou prova viva disso, por isso sou muito grata a Deus e valorizo os estudantes.

Não parou por ai…

Não parei! Após esse curso fiz pós-graduação em  Políticas Públicas, na Faculdade de Sociologia e Política de São Paulo. Estou ainda estudando e fazendo cursos.

 Ser Assistente Social te realiza?

Ser Assistente Social me realiza muito. No decorrer dessa profissão nós vemos muitas coisas tristes, as situações das famílias e não temos condições de ajudar, porque temos um limite até onde ir, que são os benefícios, as transferências de renda, para auxiliar na questão financeira, tem a questão do atendimento, como trabalhei nos vários setores,  tem também as  questões de violência. O que mais dói é ver a situação de vulnerabilidade de uma família e não poder ajudar, sabendo que ela está naquela situação por questão de desemprego, falta de habitação e até a falta de escolaridade. Tudo isso às vezes gera violência entre as famílias. Ás vezes as pessoas não entendem, criticam, julgam sem saber , no entanto tivemos muitas histórias boas também, atendemos pessoas que viviam em situação difícil, mas que com nosso atendimento víamos a diferença. Tivemos alguns casos de pessoas que estavam em uma situação de vulnerabilidade, uma pobreza muito grande, família com dependência química, de álcool e hoje vejo e fico muito feliz, porque essas pessoas se transformaram,  a terceira geração, já é de crianças e adolescentes que acolhemos, orientamos, auxiliando e hoje em dia levam uma vida totalmente diferente. Junto com a equipe desenvolvi vários projetos, por isso essa área é muito gratificante. Mas precisamos ter as ferramentas para trabalhar.

Antes de ser Servidora, o você que fazia?

Tenho uma parte interessante da minha vida antes de passar em 2006 para Serviços Gerais, quando eu vendia roupa, fazia ovos de páscoa, vendia lingerie, sapato, trabalhei  de empregada doméstica,  de babá e como meus pais eram trabalhadores rurais, trabalhei um pouquinho na roça. Mas sempre com um pensamento positivo de progredir.  Sempre gostei de estudar, inclusive, da família sou a única dos irmãos que tem formação acadêmica.

Você é muito determinada, não é?

(Risos) Depois que passei no serviço público eu almejava mais, um cargo melhor, porque uma coisa interessante é que eu sempre dizia para o Dinael – que ria bastante  – era quando ia ao banco sacar o  meu pagamento e na época era uma média de R$300,00,  conversava com a máquina e dizia: “ Um dia esta  máquina não vai dar conta de tirar meu salário, porque não vai sair de uma vez. Tenho fé em Deus e Ele vai me ajudar”. E eu falava para as pessoas que trabalhavam comigo assim: “Eu vou ser Assistente Social, vou me  formar e passar no concurso como Assistente Social”.

E Deus é tão maravilhoso na minha vida que quando estava para me formar na faculdade abriu o concurso para este cargo na Prefeitura. Eu falava para a Lucilia Firmino e para a  Mirian Moneze, que iria passar e elas foram o meu espelho, são técnicas e me ensinaram muito, sou muito grata  a elas. Quando pego alguma coisa para fazer,  me dedico ao máximo, então quando as pessoas me diziam: Maria Adriana se candidata a vereadora e como sempre gostei de política pensei: “Vou falar com Deus, se ele me autorizar…” , então senti que devia ir! Mas gastei muita sola de sapato, conversei com muita gente, tinha esperança e meu marido sempre dizia : “a Adriana é dedicada, tudo que precisa ela vai atrás”.

E passou?

Tinham duas vagas e eu dizia:  “Meninas são duas vagas e uma delas é minha!”. Estudei tanto, estava fazendo TCC, trabalhava durante o dia e quando chegava em casa tinha uma mesa na minha copa, deixava todo o meu material do conteúdo programático do concurso e fui estudando,  decorei ao ponto de chegar na prova saber quase ela inteira. Me esforcei, ia dormir três, quatro horas da manhã. Meu pai teve uma parte muito importante nisso, (emocionada!), pois ele fazia café, porque eu gostava muito e me despertava.  Ele chegava do trabalho, no sábado ou domingo, pegava o café e falava assim:  “Filha,  o papai fez o café”  e me  levava a garrafa.  Meus pais são tudo para mim, meu exemplo, meu espelho.  Deixava de fazer qualquer coisa por ele e deixo, ainda hoje pela minha mãe.  Voltando à prova: quando a abri eu pensei: “Meu Deus é pegadinha,  sei tudo praticamente”. Sai da prova chorando e falei para o meu marido: “Dinael,  passei, disso eu tenho certeza” . Ele respondeu: “Te conheço e se está falando,  acredito!”

Então seus pais tiveram grande influência em sua vida?

Meu pai ficou muito feliz com as minhas conquistas, mas já estava muito doente, mesmo assim ele conseguiu ir na minha formatura em Fevereiro, porém em Março ele faleceu. Lembro que ele estava no hospital na UTI e disse para enfermeira: “Essa é minha filha, ela se formou para Assistente Social”. Tinha orgulho de mim, nunca vou esquecer disso, ele via minha luta e fazia muita coisa para me ajudar, nunca puderam me dar boas condições de vida, mas meus pais nos deram muito amor, pois era uma vida muito difícil. Meu pai foi doente na minha formatura, dançou a valsa comigo, tiramos fotos, no entanto na mesma semana ele acabou de adoecer e depois veio a falecer.

Falar o seu pai ainda te emociona…

Interessante é que meu pai me chamou para conversar e me falou que ia morrer, que amava muito todos  nós. Tivemos um diálogo muito tranquilo, apesar da emoção ter sido muito forte. Mas tive a oportunidade de falar “Pai, eu quero dizer para o senhor que foi o melhor pai do mundo e se eu tivesse que escolher um pai seria o senhor de novo”.  Então ele sabia que estava chegando a hora e estava muito conformado, tranquilo, morreu tranquilo, era muito sofrimento por conta da doença, isso ficou marcado (muito emocionada!).

 E a carreira continua…

Depois eu fui chamada, recebi meu primeiro salário e foi uma alegria.  Sempre me dediquei ao meu trabalho, passei e fui trabalhar no CREAS (Centro de Referência Especializado da Assistência Social), me convidaram para ser Coordenadora, daí um tempo continuei trabalhando, depois fui Secretária da Assistência, no final de 2013 até o final do mandato, me afastei três meses, para me candidatar. O legal é que eu falava para as meninas: Sou Assistente Social, agora vou ser a chefe de vocês, me aguardem.”  Elas diziam que estava doida. Respondia:  “Eu sou, mas Deus é comigo”  e deu tudo certo graças a Deus. .

Paixões, Sonhos e gratidão…

Meu sonho era ter um carro zero e quando passei no concurso consegui comprar um (risos). Tenho planos para fazer mais por minha cidade.  Eu sou muito grata ao Dinael meu esposo, porque ele sempre me ajudou muito, grata a minha família, filhos que sempre me apoiaram, porque não é fácil a gente sair para estudar, depois ser Secretária. É preciso doar 24h do seu tempo, agora para política e eles têm que ter muita paciência, mas minha gratidão maior mesmo que eu falo e sempre vou falar é para Deus e eu falo que Ele é muito bom, porque sair da onde sai não tinha formação, fui estudar somente após de casada, só Deus sabe as dificuldades.

Gostaria  de dizer às pessoas que estiverem lendo essa entrevista que, se elas tem algum sonho, que acreditem nele  e corram atrás, porque todo mundo tem capacidade: lute, tenha fé em Deus, porque no final sempre  há uma conquista.


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